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A mostrar mensagens de agosto, 2020

arrabil de metim

"E passa a melódica corda do teu arrabil, pelo metim da tua saia, ninguém ouve o seu som, sem sentir a tua textura primeiro . Tu brilhas na plateia deixando o arrabil controlar os movimentos sinuosos do metim rubi, sobre a suavidade da tua pele. E essa música não pára só no estribo mas na pupila da nossa essência."

funestação

A lipemania dos meus ombros, de queixo cansado e nuca funesta, encostados a esta parede esverdeada, onde a minha acidia me viola, dia após dia... Não me reconheço nestas criaturas que correm nas suas viaturas. Ah! Este corre corre, tem-me como ninho, serve-me de colo e o absinto me suporta. Já nem a minha carne me quer, joga-me a este mural de musgo e abandona-me à sorte, ou destino quem sabe.

frases soltas

" Na tua excelência obsessiva observo. A tua vida pode não ser perfeita (nenhuma é), aliás a humanidade é uma colmeia em entropia constante. Contudo tens de ser um perfeccionista sanguinário ou desabas por completo.  Foi na multidão a celebrar que ela o agarrou. O seu ósculo quente dizia o adeus que ele tanto temia. Aquele bambaré levou lhe tudo , até a paz que ela trazia. Encontrei-te no alabastro, abatido, naquela manhã de neblina, não cheguei antes de acontecer. Ainda cálido, doaste a tua alma, não quiseste despedidas com sentimentalismos baratos, não eras assim. Até no teu adeus a tua queda era digna de um rei.

Nunca pensei (200 palavras)

Nunca pensei que me sentisse mais minha ao ser tua. Foi no teu toque que me apuraste os sentidos. Estas nossas possessões que nos guardam os demónios. Não, nunca os deixes partir , porque nunca irão para onde pertencem. É no nosso ser que devem gritar de prazer. É nos gemidos húmidos, que se devem acorrentar. Deixa-os dançar sobre a nossa sepultura, vendo-nos renascer a cada noite. Foi no teu corpo quente que nunca pensei encontrar o gosto, o vicioso gosto, de estar a arder nas tuas labaredas. Foi sim, nas tuas formas que reconheci os meus contornos e as minhas cores. Negras cores do mais íntimo e profundo, que me era desconhecido. Essas chamas que nunca iluminam as nossas encarnadas sombras. Vivo essa desejada ânsia de morrer em teus lábios. Se algum dia pensasse que a vida em teus olhos teria este ensanguentado paladar , teria voado como voa o vento, assombrando o nosso lado mais escuro. O terror seria uma gargalhada, sinistra, engarrafada à mercê das marés tendo o luar como berço. A

pele macia (7 vírgulas e 9 pontos)

Sobre a pele macia, de quem pensa tudo saber, rasgava-lhe o toque doentio do homem que nada sabia. Numa fração de segundos os dias giram mais rápido do que sonhou e ali estava o inesperado . Tanta inocência desabrocha, criando-se a si e a outro. Não fora por isto que os seus olhos brilharam mas fizeram-na chorar de culpa. Essa culpa nunca mais a largou. Sobre aquela pele macia, o saber se desvaneceu, o tempo passou e nunca mais esteve só. Sobre aquela pele macia, via-se florir e murchar a cada toque do destino. E ali estava o inesperado, que sobre a pele macia criava-lhe um coração. E naquela pele macia tem o seu colo ainda hoje.

silêncio ( 7 vírgulas e 9 pontos)

Dava a minha alma, tão solene e delicadamente, por uns instantes de silêncio. Preferia vela , mesmo que levada, arrancada de mim, lamentávelmente longe da essência, do que ter este grito dentro do peito. Dava-a cegamente em troca da paz. Em troca do sussurro que não se ouve. Oferecia-a, como a jóia do meu ser, para poder ter o som do silêncio. A sangrar corria as ruas vazias. Golpeada ainda a jorrar. Dava tudo e mais que fosse. Preciso da surdez do vazio e não da minha alma.