Olhar de neblina

 És uma doença, consomes as minhas entranhas , maltratas os meus órgãos e mesmo assim desejo te sem conseguir definição ou razão... És mais que um vicio, vivo te sem receios , procuro te para além do possível, choco , quebro arranco, para te possuir e no fundo nada tenho de ti... Quebro me em mil pedaços, e volto a colar me , só para poder estar inteira no teu colo... E volto a sentir me sozinha... Olho te e volto a desejar te mesmo sabendo O teu efeito secundário, tomo te na esperança de curar esta patologia, ate que acordo as vezes com sintomas agravados de saudade, não sei onde achar o remédio... Morrerei deste mal?

Há momentos que dava jeito ser um pouco ausente da existência, porque as memórias chegam sem avisar e o ciclo repete se , já vi isso, sei onde termina e mesmo assim , insisto ...  O mesmo jeito , o mesmo olhar... Gostava de ser ignorante e não ver o que aparece diante da visão... Há coisas que procuramos e outras que por mais que corras vêm ter contigo... E perceber este misto entre " já lá vai tempo" e " lembro como se o vivesse agora" ... Jurei que não voltava a vive lo e enganosamente dou hipóteses ao meu ego para não quebrar o ciclo... Tem noites que são engolidas pelos dias e nada consegues fazer, como aqui e o agora , a moer algo que já foi , seja no passado longínquo ou recente, passado é passado não regressa por mais desejo que tenhas de reinventar e melhorar, nunca vai ser o que já foi e muito menos ser algo melhor... Porque ficou lá atrás... Então porque gastar ...

Porque para mim vales mais... Desculpa, vales mais que esta teimosia parva, todas as birras passam a ser menos que nada comparadas com o quanto significas... Apetecia gritar te ,sacudir te e tentar abrir te a mente para estas casmurrices , sair por aí sem destino sem hora ,correr o mais possível e perder te... Às vezes passa pela cabeça, principalmente quando me sinto injustiçada, mas és mais para mim... Não consigo, preciso ouvir te , eu gosto de ouvir te, porque iria eu ignorar isso ?? Não faz sentido... Porque será que não Entendes? Queria tanto...

Perdida, revejo o meu reflexo no espelho e não me reconheço, quem és tu afinal?? Porque paraste aqui,  com tanto drama e choque, todos os outros olham para ti como uma louca e talvez sejas,  não te conheço mais, como me podeste enganar desta forma, pensava que me pertencias, mas afinal és mais, és mal, sem pudor fazes e desfazes as facetas que me convenci serem minhas... Porque eu... O que sou, ou o que és,  porque não te conheço... És a surpresa ingrata,  que desfaz em areia fina o que supostamente era eu... Como me recupero, onde me procuro? Deixa esta alma,  nem que a deixes solitária e oca,  mas abandona a,  quero voltar ao meu lugar...

Encontro me no ponto de partida,  em que sinto que estou desconstruida,  meu Castelo de cartas desalojou a firme esquerda parte por amolecer... Tipo folha de Outono desprendida do ramo à força pela ladra e perversa brisa da manhã... A construção mantém se, embora trémula e insegura,  e não sou capaz de enxergar isso, estou ofuscada com o alerta fogo do risco de derrocada, que já dou como certo no chão... Meu Castelo treme e não o vou segurar... Falta me a carta, que conscientemente deixo abandonada a canto... 

Estás sempre por aí a procurar ouvir me,  o mundo a desabar nas tuas costas e tu aí a dar me a mão , sempre pronta sempre amável,  outros dias fria e dura mas estás aí,  não te importas de por de lado os teus a tua vida o teu universo para me socorreres naquele momento exato em que preciso de ti... E estás aí apesar de tudo,  tempo , clima rotina estás aí para me ouvir,  para me agarrar,  abanar até ...e eu nem sempre estou...

Voa veloz o relógio!!!  Num momento tinha minhas mãos ligadas às tuas noutro ficam cheias de nadas... Num momento meus abraços abraçam um mundo noutro estão um mundo Soltos e sós... Voa veloz o relógio!!!  Num momento tenho o teu calor e doçura,  noutro sinto o inverno na pele azedo e gelido . Que engraçado este tempo!!!  Num momento dá me tudo no outro não mereço nada... Mas a vida é cheia de momentos não é mesmo?