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Estou cansada

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O cântico dos pássaros anuncia uma manhã fria, a neblina adensa a paisagem e permanece nos meus olhos, estou cansada... O desfoque persiste e já não reconheço ninguém, vultos circulam como espíritos muribundos a levantar o pó, e eu cansada... Ousso os gemidos desses espíritos espalhados a tocar nas árvores, elas queixam-se ao vento, e continuo aqui cansada... As brisas levam tudo com elas, e a chuva dá cor aos espíritos, aos gemidos e às angústias, estou tão farta de estar cansada... Vou limpar o rosto, colorir a neblina dos meus olhos, e dançar à chuva com os espíritos ao som da melodia dos gemidos das angústias, para não mais me cansar, de estar cansada... 

Sinto

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Sinto, mas vivo na camada mais superficial existente, em que seres como eu não passam de arquivos , como pragas, que ao mínimo toque contaminam a pureza indecifrável de alguns . Eu sinto, por mais ridiculo que possa parecer, eu sinto... Algo de loucos para os demais acima da superfície. Com o supérfluo de ter em mãos, estas vidas em quantidades exorbitantes, que se tornam uma banalidade. Aqueles dedos tão habituados a tais habilidades viram nos do avesso, sem a noção que apesar dos pesares , sentimos . E nesta camada superficial eu sinto , que não devia sentir, pois quando nos elevamos já nada se sente . Talvez seja essa a razão, que utilidade tem sensibilidade no céu?

Lembro- me

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Lembro- me de ti , nas noites silenciosas deste quarto . Onde o silêncio trás partes de ti , pequenos recortes , peças que me marcaram de alguma maneira e que agora apenas flutuam entre os compartimentos deste lugar. Já não sei amar sem ti , no fundo, nem mais me reconheço . Será que eras assim tão preciso para formares uma mera mulher ? Vou caindo aos bocados neste silêncio , e ninguém dá conta . Lembro-me de ti , dos nossos flashs, dos sítios que iria por ti , se não te nascesse outra alma nesse corpo. Este quarto tem aguentado a decomposição constante das noites despidas de ti. Mas eu lembro- me de tudo e dos nossos silêncios que agora engulo , porque até isso serve nesta minha fome .

Podridão

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Meu corpo estava ali enquanto minha alma vagueava nas ruas ... Procuro te incansável, sem mesmo saber o que procuro, apenas sei, que és parte de mim . Em Cada beco ou cruzamento, vasculho aquilo que visualizo como o ideal perfeito mesmo sabendo que o que talvez procure seja a imperfeição, ou o valor desta. Parece que me escorres pelos dedos e isso me corta por dentro , a cada dia mais um pouco apodrece. Não gosto como está o meu interior , a frieza de quem está a morrer aos poucos já me ultrapassa. E tu contínuas a esconder te  ... E a deixares ficar os golpes profundos ganhar infecção ... Porquê?

fantasma de outono

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Foi naquele outono , onde tudo caia , onde o vento gritava nos telhados que te vi morrer .Um outono ansioso , que ainda hoje varre os meus baús e amarra pedras aos meus pulsos . Estou presa lá , por entre as folhas a molhar o chão, fazendo do vento a minha voz nas janelas mal fechadas... E vi te morrer , não de uma vez só, mas em várias vezes , em quedas lentas,  na luz alaranjada daquele amanhecer. Não consegui enterrar-te o corpo e por isso te carrego por todo este tempo , feito fantasma gritante a bater as minhas portadas. Aquele outono vive em todas as minhas estações , e amarrada estou às suas pedras , atormentada pelo fantasma da tua memória, a sentir o vento da tua voz na minha alma.

A menina que sonhava

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 É... Eu peguei em tuas mãos e fui . Eu quis tanto sentir um amor verdadeiro que esqueci do meu próprio amor . Vivi em tuas mãos e nem sei se foram elas, se fui eu , que matei a menina . Era apenas uma menina que sonhava . Lembro- me de continuar a lutar , sonhava , sonhava e sonhava , e as tuas mãos severas me acordavam e acordavam, mais e mais... e sonhava outra e outra vez , até que a menina que sonhava não quis mais sonhar. Aí, as tuas mãos abraçaram-me , numa alegria tal que fiquei quebrada. Pecinha, a pecinha me juntei ... A menina reapareceu, só que já não era a menina que sonhava ... Era a tua mão marcada,  uma mão que me levou onde não dá mais para voltar. 

Agitação

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Acalma essas tempestades , sei que já te habituaste às tormentas , mas eu flutuo na minha calmaria . Também não estava á espera de deslizar para as tuas marés , venho de outras correntes , doutras âncoras desfeitas,  de portos semi destruídos . Perdoa-me não sei como lidar com as correntezas que me ofereces , sinto-me tão indefeza nesse mar ... Abriga-me nas tuas rochas , protege-me dessa tua agitação e beija-me ... Beija-me como um presente à muito pedido nas tuas preces ...