O tédio

Nem sei o porquê de ter este nome, Salvador, como se um nome nos definisse hoje em dia. Somos números, cada vez mais. Centenas passam por mim como massas de carne sincronizadas. Transportadas por caixas de metal de um lado para o outro.
 Com os meus fones nos ouvidos a ouvir “ november Rain”, as massas entram e saem no ritmo. Acabo por sair também, com os minutos contados e as solas a fazer o “ TIC TAC” até me sentar em frente ao monitor. Os meus tímpanos continuam a vibrar ,”I’m spending my time…”.
Durante 9 horas mecanizadas estou  fechado num bloco de cimento. Chega o momento de ir. O vazio é meu companheiro, nesta jornada até o sol nascer, no eterno processo dos Deuses. Ao voltar, o sono apoderou- se de mim e pela primeira vez sonhei.
Alguém levava-me pela mão, via os seus cabelos a ondular como as ondas num dia de verão. Tinham reflexos dourados como as bijuterias da minha avó.
E corríamos, como se fugíssemos de algo . Passamos salas vazias com cantos escuros, de azulejos partidos, com vidros estilhaçados, reluzentes no chão.
Ao passarmos uma porta , eu hesitei e decidi voltar a trás. Foi quando senti as unhas a rasparem nas minhas costas, como que a impedir que entrasse. Ouvi  gritos de alguém que frustrava enquanto arranhava a porta. Continuei ali colado. O chão negro parecia terra batida depois de um incêndio, como se por ali uma guerra já tivesse acontecido. Os meus olhos param num canto em que começo a ver duas pessoas em chinelos de quarto, com bata e máscara cirúrgica no rosto. Olham-me sem qualquer expressão como se tivessem sido lobotomizados. Eu sigo-os. Porém acordo com o sol a bater-me no rosto. As horas chamam-me para a rotina e a vontade era pular para a noite e voltar a sentir o meu coração a bater de novo. Será esta noite que viverei outra vez?

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